O abuso do assédio sexual


Parece que surgiu um novo crime, que de novo nada tem a não ser o seu recente mediatismo: o assédio sexual. Temos visto todo o tipo de espetáculo à volta deste tema: desde vestidos pretos em Hollywood, a hashtags que querem restaurar a fé na Humanidade. É toda uma campanha de marketing que alinda um assunto nada bonito e que perigosamente nos ilude, fazendo-nos pensar que, agora que tudo foi exposto, não há mais nada a temer.

Citando a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), o "assédio sexual é todo o comportamento indesejado de caráter sexual, sob forma verbal, não verbal ou física, com o objetivo ou o efeito de perturbar ou constranger a pessoa, afetar a sua dignidade, ou de lhe criar um ambiente intimidativo, hostil, degradante, humilhante ou desestabilizador". Ora, há que ter bom senso e saber discernir um caso de verdadeiro assédio de outra coisa. Normalmente, dizer hoje estás bonita é diferente de dizer papava-te toda (ou todo, sim, porque não são só as mulheres que são assediadas) ou de parar um carro e pressionar uma pessoa a entrar para ir dar uma voltinha (como já me aconteceu). Uma acusação destas pode mudar drasticamente a vida de uma pessoa, por isso, é melhor que tenhamos certezas antes de apontarmos o dedo.

Excluídos os não-casos, importa falar da visibilidade que as celebridades e os meios de comunicação social dão a esta questão. É claro que é importante instruir e educar a sociedade, de forma a erradicar estes comportamentos abusivos e a incentivar a sua denúncia, mas não se pode, de maneira alguma, monetizar um problema real de pessoas reais (e quase sempre anónimas), trajando vestidos pretos de alta costura e avaliando quem foi melhor ou pior vestido. Este não é um problema exclusivo das elites de Los Angeles, é um problema do mundo, de milhões de homens e mulheres, que muitas vezes extrapola para situações de violação, de agressão física ou de homicídio.

As manifestações não são suficientes para aqueles que sofrem e que travam batalhas contra sistemas jurídicos que não protegem a vítima, mas o agressor (basta ter em atenção os países no Médio Oriente, em que uma mulher vale menos que um camelo). É preciso defender medidas concretas, em vez de espalhar boatos, ou culpar a Meryl Streep dos atos do Harvey Weinstein. Não é que tenhamos de nos calar, não podemos é banalizar.

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